segunda-feira, 14 de julho de 2008

atravessamentos

Lendo o primeiro e-mail da Lívia e depois o texto do Manovich, fiquei me lembrando muito da experiência que tive com a Dani Lima.

Em 2002 eu emprestei o Espaço em branco entre 4 paredes para que a Cia Dani Lima fizesse uma performance registrada aqui em vídeo:



Depois veio o convite para pensar num espetáculo em conjunto. Eu escrevi textos sobre os dois trabalhos, a Dani também escreveu sobre o Falam as partes do todo?, assim como o Camillo. 






Resumindo, o Espaço em branco entre 4 paredes foi feito em 2002, quando eu ainda estava grávida, e o vídeo da performance foi filmado no Panorama de Dança desse mesmo ano, no Teatro Carlos Gomes - eu dirigindo as câmeras do João Vargas e do André, com a Branca à tiracolo, entre uma mamada e outra na escada de emergência. E o espetáculo começou a ser produzido quando a Branca tinha mais ou menos 8 meses. Quando eu ia aos ensaios tinhamos conversas longuíssimas às vezes com pessoas de fora da companhia também. Eu não ia a todos os ensaios e sentia muita falta disso mas ao mesmo tempo eu sentia um enorme prazer em vê-lo mais crescido depois daquele pequeno distanciamento. E um dia comentei com a Dani que naquele momento entendia o que era ser pai - ela amamentava diariamente o espetáculo e eu reconhecia o meu dna ali e o educava junto, apesar de não estar presente o tempo todo.

Eu vejo meus trabalhos com este olhar pensando no que é uma relação de diálogo, o conhecimento, aquilo que a gente aprende com o outro, estando ligado no mundo, e como diz a Lívia, absorve e transforma ao mesmo tempo.

Outra lembrança que me veio foi a da exposição individual do Ernesto que virou o 4 artists and I quando ele pediu emprestados trabalhos da Fernanda, do Cassaro, do Carlão e meus para expor junto com os seus na Butler Gallery em Kilkeny. Assim como na primeira performance da Cia Dani Lima, esta cumplicidade só possível por haver confiança, mas também confesso que gostaria de ter participado mais ativamente da montagem na Irlanda - senti uma sensação meio estranha ao ver a exposição apenas através de fotos e depois de montada.

Bjs,
T.

Planta da Galeria 2

Não consegui que a imagem ficasse boa... Mas de qualquer maneira já enviei essa planta por e-mail também.

Além da Galeria 2, conseguimos metade do corredor que divide as duas galerias!

ímpar par

Querido João,
até agora não entendi muito bem a matemática que faz com que havendo 12 artistas desenvolvendo trabalhos em "duplas", ou aos pares ( na verdade dupla aqui não diz nada, mas serve para abreviar o 1 em relação ao outro), você tenha ao mesmo tempo ficado sem par e fazendo par com outro par!
Eu estava preocupada com isso, de não ter ninguém fazendo o seu trabalho, fiquei me perguntando se eu conseguiria fazer (acho que não) ou se não estaria faltando alguém na lista (acho que sim). Mas agora, ao me dar conta deste enigma e da sua beleza ímpar, começo a achar que faz todo sentido esse desencaixe é muito mais interessante, ele é o elemento perturbador que não deixa parar, estagnar, cristalizar, emoldurar, etc é o vade retro do idílio, é o elemento cinético, o agudo. ih, me empolguei, paro por aqui mas continuo pensando, ainda tem muito assunto.
Um beijo,
Livia

Barrão manda noticias por email

e eu tomo a liberdade de reproduzir aqui...


> Oi Raul
> Comprei as bandeiras!
> Elas são de sinalização marítimas me lembram também os cartões vermelho e
> amarelo e a linguagem de códigos.
> Agora tenho elaborar um pouco mais a ideia de como trabalhar essas
> bandeiras, surgiram novas ideias!!
> Hoje elas vão para a lavaderia!
> Valeu !
> Grande Abraço,
> Barrão
>

abraco a todos

Talvez por estar mais desgarrado das parcerias, fico pensando se estas travessias não poderiam/deveriam ser mais amplas e não exatamente em duplas. Fiquei pensando no que Lívia escreveu, nas idéias de mimetismo, de absorção e transformações das coisas e do tempo. Acredito que a idéia de uma trama em que os caminhos [travessias] se a[travessassem], fosse mais adequada às relações que temos uns com os outros e com o projeto.

Fico pensando se não são mesmo as nossas vivências em comum – ou não – o que estamos buscando neste projeto. Este exercício de pensar no trabalho do outro, pelo que posso perceber nos depoimentos do Raul, da Tati, e no que tenho pensado, me parece – além de resolver uma proposição – um exercício de lembrar vivências comuns: atravessamentos poéticos, atravessamentos afetivos. Quando o Raul fala de ter visto um determinado trabalho no atelier da Daisy, lembrei dos trabalhos que vi lá quando estive em reuniões onde outros artista envolvidos neste projeto também estavam e dos comentários que fizemos.... está tudo emaranhado....

Apesar de procurar me focar no que me propus – fazer dupla com a dupla Carlão-Neto – este projeto tem me levado a lembrar. Talvez pq meu maior estímulo seja o fato de conhecer os artistas envolvidos, que são amigos de longa data – alguns muito próximos. Penso que talvez o mais interessante seja ampliarmos estas duplas, deixá-las mais ambíguas, mais triplas, quádruplas....

Gosto mesmo dos afetos sinceros que trocamos entre nós. Talvez seja este o melhor 'trabalho' desta exposição.

A Luiza fala em 'cumplicidade, amizade e anos de histórias públicas e privadas'. Adolfo fala que 'o fundamento do projeto é intercambiar poéticas'. Penso que isto deve acontecer de forma ampla!

Abraço a todos!