terça-feira, 29 de julho de 2008

atravessamento afetivo

Estou reenviando com o Adolfo que está ao meu lado por que a mensagem não tinha ido antes...
Depois do nosso encontro na casa da Daisy saí pensando que sempre haverá espaço para novas idéias, outras proposições,... mas agora a experiência que estamos envolvidos é esta de ser travessia-carioca. Acho bacana ser um projeto carioca, somos vizinhos, temos, mesmo com nossas diferenças, um atravessamento afetivo,
e esta é a grande particularidade desta exposição. Gosto muito da idéia também de um espaço para livros, catálogos e referências para consultas assim como o blog aberto a outras participações. Abraço a todos, Brígida

segunda-feira, 28 de julho de 2008

atravessamento 1

Depois da visita ao atelier do Barrão e da nossa conversa da semana passada, nos falamos hoje de novo por telefone e resolvi ir amanhã à SP para produzir alguns trabalhos em porcelana.
Serão usados utilitários feitos em formas ou no torno - mais próximos das peças/xícaras usadas por ele abaixo e também mais delicados do que esses estudos logo aqui, cortarei furos por onde podem entrar dedos ou braços além daqueles que servem de máscaras e lembram um crânio - os buracos onde se encaixam os olhos. A idéia é que eles sejam entrelaçados pelas asas mas também uns nos outros, como nas fotos dos estudos que eu fiz a mão.






E na semana que vem devo fotografar alguns bailarinos da Cia de Dança Dani Lima reunidos por esparadrapos, band-aid, e emplastro sabiá - a idéia é construir com as partes visíveis misturadas um novo todo, como os objetos do Barrão, mas que será apresentado sob forma de fotografias tirada em fundo infinito branco - como alguns trabalhos do Marcos Chaves... Também penso em fazer umas fotos mais planas, próximas dos estudos que fiz em 2006 e que tem relação com os desenhos/colagens do Barrão.

visita ao atelier do Barrão 2

Também queria ver mais de perto a construção dos trabalhos do Barrão, já tinha me dado conta através da lembrança de imagens de outros trabalhos dele que a reunião dos fragmentos num todo era importante, mas também me deparei com surpresas que vieram reafirmar os planos de investir nas porcelanas assim como fotografar os bailarinos como um todo contra um plano infinito.


sobre abrir o blogue

Queridos todos, queria deixar uma idéia sobre o dilema da abertura do blogue que está aparecendo. Talvez fosse interessante abrir ele, publicamente, coincidindo com a exposição, já tendo funcionado como caderno de navegação mais livremente durante este tempo e até se poderia instaurar quase como trabalho na própria mostra, um pequeno computer ligado...como bastidor, consultas, quase é uma liga com a idéia de colocar livros, catálogos, outras referencias...abraçosbeijos, Adolfo

visita ao atelier do Barrão 1

A visita aconteceu no sábado antes mesmo da nossa reunião. Eu queria rever os desenhos que serviram de referência para os estudos com peles e band-aids feitos em 2006 que estão aí no meu primeiro post e eu repito aqui. A foto da dupla é da Branquinha. 




a propósito do título

Olá a todas, vi os correios, e vejo a propiedade da sugestão de Fernanda, mas até agora nunca levantamos outra opção e ela foi caminhando, e há, como já diz Luiza, algumas coisas gráficas andando, identificando o projeto (até o blogue) dessa forma. Mas isto é cronológico. O significativo no título acho que continua sendo,
obviamente, TRAVESSIAS. Cariocas sempre foi um elemento de precissão menor, porque procede de artistas de Rio, por existir esse alto grau de contaminação do local em certo grau, por ser a cidade e seu contexto vital/cultural o que possibilitou esta circunstância. Não está tão claro que isso suceda sempre e em qualquer lugar (Amanda e Luiza observaram isso com pertinência). Acho que sim é uma territorialização, e confessional como local de ação, etc,, mas que nunca escurece a palavra primeira que é fulcral, que potência a transversalidade. A palavra sozinha pode ser mais abstrata (aberta?), mas pode ficar também algo vaga demais, travessias, trajectos, etc. Acho que o nome como está é honrado, dá a cara conceitual e não esconde uma marca. Essa é minha opinião (e nunca uma questão de poder). Mas daí é a origem do nome (que já substitui outro anterior). De qualquer forma aguardo retorno de vocês, porém as coisas já estejam num comprometido andamento...Beijos, Adolfo
Obs. Outro detalhe, e espero que não chegue a ser considerada coisa de gringo, mas sempre achei sedutor que a referencia de Rio aparecesse, pois se justificava pelo conteúdo mas também porque veia uma forma acertada de ressonância.

sábado, 26 de julho de 2008

sugestão:
incluir na exposição uma mesa com catálogos e outras referências aos trabalhos dos artistas apresentados, para ser consultados pelo público, e por nós mesmos!
esta mesa poderia ser colocada já no primeiro dia de montagem, com cadeiras em volta.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

quantas vezes uma obra que apreciamos abandona caminhos que queríamos ver concretizados?

encontro 24.07.2008 > fotos 5

caríssimos companheiros,
aí está meu trabalho, já visto e aceito pela lívia.
mede 105 x 210 x 1cm
material: tecido de algodão, tubo e fios de cobre, pregos
a foto está muito ruim, a parede é branca!, espero que sirva ao menos para dar uma idéia.
tive a intenção de retomar alguns elementos de antigos trabalhos da lívia, especialmente cor, construção e estrutura. saíram referências muito fortes a antonio dias e palermo, algo também de obras que vi recentemente de rauschenberg, uma pitada de oiticica?
estas referências estão escrita à lápis na parede. outras serão bem-vindas, assim como os comentários de vocês. penso que pode casar bem com as bandeiras que o barrão está trabalhando.
há muito assunto, e vontade de síntese!
bom fim de semana, beijos, fernanda

fernanda para livia

sugestão: alterar o título da exposição para "travessias"

encontro 24.07.2008 > fotos 4




encontro - reflexões da luiza

1.1 // Gostaria de estimulá-los para que encontros como o de hoje aconteçam com mais frequência. Não precisa necessariamente que estejam os 12, além da equipe (Adolfo, Amanda e eu), mas pequenas reuniões que possam abastecê-los de referências e propostas para o desenrolar dos trabalhos. Encontra quem quer e puder. Nem preciso dizer isso...

1.2 // Peço que, a partir de hoje, nos mandem fotos dos trabalhos prontos (Fernanda, por exemplo) ou em andamento, ou qualquer imagem que possa servir como divulgação da exposição, já que as obras serão "incertas" até a inauguração..... Não se esqueçam que vocês podem postar essas fotos aqui também, mas para a divulgação impressa, precisamos delas em alta resolução (aproximadamente 10 x 15 cm a 300 dpi). Adolfo, você também pode e deve incluir as fotos das visitas aos ateliês no blog, assim poderemos acompanhar o seu roteiro =]

1.3 // Afinal, qual é a decisão do grupo: ABRIMOS OU NÃO O BLOG?

--

Obrigada a todos pela noite de hoje, especialmente a Daisy e Marcia com o caldinho verde delicioso!

Grande beijo,

LB


encontro

queridos,

Estou chegando em casa depois do nosso encontro e na empolgação, escrevo pra dizer que achei muito bom e acho que deveríamos tentar outros. Penso que nossa exposição está aí. Não na discussão do que efetivamente vai ser feito, mas nesta troca mais sutil que acontece no que não é dito [e também no que é], mas sentido, em todas as dimensões...
beijos e abraços,
J.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

texto folder

TRAVESSIAS CARIOCAS tem algo de trânsito, de passagem, mas também de reconhecimento da alteridade. Não se trata de uma proposta estética a mais, que visa a sua razão de ser na generalidade ou na panorâmica, mas de uma mostra coletiva que potencializa esse aspecto de troca de poéticas, de autorias, e, ao mesmo tempo, reflete uma declaração de comunhão, de afinidades. Uma verdadeira mostra coletiva no sentido mais extenso da palavra, pois enfatiza a transversalidade estética, as comunicações profundas que existem, ou estão em andamento, entre alguns artistas cariocas de significativo percurso e reconhecimento, cujo território de ação e ponto de partida é o Rio de Janeiro, ainda que a internacionalidade seja a sua outra marca de identidade.

De fato, os 12 artistas reunidos aqui, Barrão, Brigida Baltar, Carlos Bevilacqua, Daisy Xavier, Eduardo Coimbra, Ernesto Neto, Fernanda Gomes, João Mode, Lívia Flores, Marcos Chaves, Raul Mourão, Tatiana Grinberg, quase pertencem a uma mesma geração. Em qualquer caso, somente com algumas pequenas diferenças de aparição, são artistas que desenvolvem seu trabalho em toda a sua dimensão a partir dos finais dos anos 80 e a década seguinte, no umbral do século XX e XXI. A sua contemporaneidade vem marcada pela pluralidade manifesta de horizontes, de suportes e registros. E esta transversalidade é uma parte significativa destas TRAVESSIAS CARIOCAS, de seu exemplo estético – de sua generosidade –, e, ao mesmo tempo, de sua construção e des-construção artística. A mostra coloca poéticas em movimento, fora do domínio completo ou fechado. É uma troca de poéticas e subjetividades. Exploração e especulação estética (sem ranço algum da semântica econômica!) que traduz uma obra aberta; outros caminhos que são, sobretudo, limítrofes.

Há, em TRAVESSIAS CARIOCAS, trabalhos que postulam diversas aproximações: diálogos, sintonias e permutações de signos das diferentes poéticas. Mas, especialmente, talvez haja duas vias preponderantes: aquela dos trabalhos assinados por vários artistas, fazendo algo comum e quase indivisível – às vezes numa tríade convergente –, ou inscrevendo-se numa seqüência que se auto-remete, e aquela que faz da re-leitura ou da aproximação a outra poética uma viagem (diálogo conceitual e formal) de ida e volta; sempre produzindo um certo moto-contínuo estético, pois os interesses dos artistas se deslocam e recebem olhares diferentes, se geram a partir de um local de enunciação compartilhado. Assim, as obras, os trabalhos estéticos, permutam cada vez mais seus signos e significados, são mais porosos, antenados com a cultura visual, o ambiente e o habitat ao qual pertencemos. Neste contexto, deve-se ver a significativa importância desta mostra constelativa sem eixo fixo, regedor – em que a própria curadoria é uma força de diálogo a mais, outro nexo, mais um fio-terra de interlocução –, e sim com pontos cardeais abertos, validados como verdades estéticas plurais, instigantes, quase reversíveis.

Adolfo Montejo Navas

Rio de Janeiro, julho de 2008

Bandeiras

Barrão,
Falamos das pinturas geométricas q remetem a sinalização urbana e dos cartões vermelho e amarelo mas tua opção pelas bandeiras também se aproxima da série de trabalhos que chamo de Fitografias. (Mostrei algumas na Lurixs ano passado e em Lisboa na 3+1). Antes de construí-las em fórmica faço colagens de fitas adesivas sobre papel mesmo.




E o encontro hoje? Vai rolar??

segunda-feira, 21 de julho de 2008

cheguei!!!!!!!

oi pessoal ,

foi mal a demora mas primeiro não entendi nada, alê n de estar viajando fisicamente , o que signinfica que mentalmente esta num estado semelhante, e finalmente na semana passada esta va me mudando nadando em caixas de uma casa para a outra com o conexoes, perdidas, ufa enfim estou de volta, e acbo de entrar nesta estranah ferramenta, ... aliaz espero que este texto chegue a vocês ∆ea que sou meio leiogo nesta avenida, pleo que vi vocês estnao em plena atividade

beijos e abraços neto

sexta-feira, 18 de julho de 2008

quebrando a cabeça

Olá Edu, Tatiana, maravilha de encaixe as observações feitas (colocamos no blogue). Tem um cruzamento além, pois aquelas esculturas de chão do Paço que já jogavam com a representação do espaço mas com os furos vão ligar com esses espaços interiores-arquitetônicos (uma arquitetura íntima que também se ligaria com Neto por outra via...), mas que tratam de questões de habitabilidade, de interiorizações-exteriorizações de corpo e arquitetura. Eu já estou querendo ver mais coisas. Podemos combinar um dia desta semana os três? Abraço e beijos aos dois, Adolfo

Oi Edu, bacana, eu também gosto muito dos seus tacos! Legal ouvir notícias, que bom que as imagens ajudaram. Não tive muito sucesso com o corte de espelhos de vidro - ainda vamos fazer um teste.

Queridos Tati e Adolfo,
ando meio encolhido em casa, mas ligado em todas as conversas.
Achei ótimo a Tati me mandar aquelas imagens. Sempre adorei esse trabalho do puzzle, acho que tem a ver com coisas que eu penso (cá entre nós, sempre pensei que é um trabalho que eu gostaria de ter feito... e... olha aí a chance!). Ele tem a fluidez, que permeia os trabalhos da Tati, uma coisa derretida, escorrida, mas é metal, tem dureza na própria aparência. Só aí já é um paradoxo que me interessa muito, além disso tem uma estrutura na superfície, os encaixes perfeitos do quebra-cabeça, a idéia do jogo. O que será dessas peças se elas se separarem? A poça vira um monte de objetos a procura de um encaixe para assim poderem fluir novamente... É muito legal. Com essas imagens/idéais na cabeça pensei num cruzamento que me parece apropriado. Vou construir uma superfície com tacos de pisos (tais quais os das minhas Peças de Chão que mostrei no Paço), cobrindo uma área no chão da exposição, num formato que remeta a esses desenhos fluidos da Tati. Aqui é um quebra-cabeça de peças que se juntam para sugerir um espaço/ambiente - um novo chão sobre o chão da exposição. Pensei também em abrir alguns furos nessa superfície que possibilitem 'entradas' ou 'saídas' entre essas duas situações. Penso aqui nos espaços reclusos e aberturas nos ambientes da Tati. Quando desenvolver o desenho eu mando.
Beijos e abraços,

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Caros, apartir da correspodência cursada (de João, Barrão, Lívia, Tatiana, Raul) já dá para ver que a idéia de Travessias toca um fundo valioso, não é meramente um recurso para uma agrupação estética. Isso foi bem visto por Amanda e Luiza no começo, e depois mais claro fazendo o projeto com elas, pois é uma coisa tentadora que o conhecimento -como fala Tatiana ou João- esteja tão vinculado a processos de afeto, de proximidade, de escuta do outro. A trama é tão maior, que tudo parece ser um ponto de partida (poderia ter mais jogos de relações, sim, abrir mais o leque de conversas) para algo que pode vir a ser mais. De qualquer forma, o que temos e vemos agora é uma intensificação dessas relações com exemplos precissos, e isso já é emblemático. Há algumas duplas, que estabeleciam alguns pilotis, mas também há correntes de três seguidas como um moto continuo (Lívia, Marcos e Fernanda) e há uma situação "de iguaria" de João inscrevendo-se no binomio Neto-Carlão numa triade rara, e generosa. Eu já estou com o texto do folder escrito há alguns dias e todo se sintoniza nesse espírito. Barrão escolhendo bandeiras marítimas para ser Barraul, criar um movimento de sinais com Raul, interconexões de signos, Brigida respeito a Edu, com uma surpresa sintética e própria de linguagens-mundos comuns (terras e ceús ligados), ou Lívia com um trabalho que poderia presentear a Marcos se não fosse que tem uma marca estranha para ser só isso. Há em tudo o que vou vendo e conversando uma distância mínima para saborear a aproximação. Assim como João falou dos afetos como patrimônio e o melhor trabalho de Travessias, algo inaúdito nos últimos tempos, eu lembrei de uma frase de Lula Vanderlei que dizia que a arte é uma das melhores formas de fazer amigos. Eu sempre imaginei que todas as formas entranham espiritus, afetos, pulsões em jogo...uma roda em movimento, abraços, Adolfo




Abraços, Adolfo

cortes







Respondendo à pergunta do João, o Espaço em branco entre 4 paredes é anterior sim, mas o trabalho de Londres, Partition que é de 2004, só tem espelhos por dentro de um dos lados - eu não queria aquela repetição em cima de repetição. E o lado de dentro que é espelhado fica virado para a entrada, e só que vai até o outro lado vê que tem um espelho por dentro também - e dali pode se ver refletido com um furo reletindo o espaço do outro lado ou mesmo com pedaço do corpo de alguém que esteja do outro lado.
Bjs,
T.

Encontro I

Pessoal,

Foi comentado durante a reunião na Caixa Cultural (aliás, no restaurante da frente) que faríamos um encontro entre artistas e equipe antes da abertura da exposição.
Falamos também em gravar o encontro para, quem sabe, transcrever algumas partes no catálogo.
Gostaria de propor um primeiro encontro por esses dias (para dar um gás nas propostas e no conteúdo que está abastecendo este blog) e outro mais próximo da abertura da exposição (após o 8 de agosto, quando o Marcos já estará de volta).
Acho que seria mais interessante se nos reuníssemos em alguma casa, ou ateliê, para gravarmos as conversas e tirarmos fotos. Alguém se habilita a disponibilizar o espaço?
Minha sugestão inicial de data é quarta-feira que vem, dia 23/07.

O quê acham?

--

LB

terça-feira, 15 de julho de 2008

A história do pó

O Raul citou esse texto e acho que vale colocar aqui.

A história do pó

Até onde é possível fragmentar? E depois de tudo fragmentado como voltar à totalidade? Da insignificância se pode retornar ao mundo significante? Fernanda Gomes submete seus objetos a um teste dessa ordem. Recolhe aquilo cujo destino é a insignificância. Coisas mínimas, irrisórias, quase imperceptíveis, raramente observadas são colocadas no lugar daquilo que merece uma atenção. Retiradas da insignificância e deslocadas para uma única função: serem vistas. Pois o olhar parece ser a única forma de tocá-las, o único possível contato antes que desapareçam. Por isso amarrar, colar, enrolar, juntar. Todas essas ações são modos de estabelecer uma coesão, evitar uma fragmentação maior e tentar dar um significado ao insignificante. Aqui, ali, acolá, mais próximos ou mais distantes, ora sugerindo um movimento ou um ruído, buscam juntos evitar afundar novamente no nada que é o lugar de onde vieram.

Quanto maior a fragmentação maior a perda de sentido, quanto maior a perda de sentido maior a presença do nada. Aqui cada um dos fragmentos sofre uma espécie de restauração e resignificação. Interrompido o processo em direção à insignificância permanecem num limite entre ser e não ser. Diante deles somos tomados por um certo estado de perplexidade. Pois é isso que o trabalho realiza, fazer de fragmentos coisas aceitando-os enquanto tal, fragmentos que continuam a ser, objetos indefinidos. Organizá-los no espaço de exposição é também uma forma dejuntar, colar, amarrar, resignificar. Fazer dos fragmentos uma totalidade outra, inédita, cujo sentido é apresentar a permanente e cotidiana ameaça do nada que existe e não percebemos – contar uma história a partir do nada que ameaça a História. Juntar, colar, amarrar são ações históricas quando só restaram fragmentos. O trabalho se utiliza da técnica do pó, e seu instante ótimo é quando a menor partícula material do ambiente humano passa de imperceptível a perceptível, quando cada um dos objetos oferece o seu quantum mínimo de significação e irradia um máximo de atenção. São objetos que tendem a desaparecer com a distância; aproximação e afastamento estabelecem a dinâmica do encontro com esses pós-readymades, que chegaram a pós sem nunca ser readymades. A desproporção entre a insignificância dimensional da coisa e a demanda de atenção que ela exige é a contrapartida autêntica à incessante hiper saturação aniquilante do ambiente cotidiano contemporâneo - por isso um pequeno mostruário arqueológico sem arché; limite último da circunferência sem centro; maior afastamento de qualquer princípio vigente. Duvidamos em que direção seguir a partir desses objetos; de onde viemos, onde estamos, para onde vamos, mais uma vez.

A parte sem o todo; é o que se anunciam: o todo desapareceu, a totalidade não é mais possível. Esses objetos se fundam na atualidade, nas micro ruínas do aqui e agora e testemunham o estrato inferior de uma história material da cultura contemporânea, o seu nível randômico elementar e desprezado, fronteira indistinta – como o pó – entre natureza e cultura na era da tecnologia mais avançada. Objetos cifrados de uma civilização pós-nuclear que falam, agora, de uma pós-história que só pode ser reconstruída a partir do pó – a história do pó. Tão frágeis, tão delicados e tênues por que assim antecipam e se oferecem como a antevéspera da destruição. Pode não parecer mas esses pequenos trabalhos não estão muito distantes das monumentais telas de Anselm Kiefer. É que eles ficam no outro extremo da parábola da destruição. Não têm a dimensão do monumento, mas a do dia a dia e dos objetos heróicos do cotidiano.

Paulo Venancio Filho

segunda-feira, 14 de julho de 2008

atravessamentos

Lendo o primeiro e-mail da Lívia e depois o texto do Manovich, fiquei me lembrando muito da experiência que tive com a Dani Lima.

Em 2002 eu emprestei o Espaço em branco entre 4 paredes para que a Cia Dani Lima fizesse uma performance registrada aqui em vídeo:



Depois veio o convite para pensar num espetáculo em conjunto. Eu escrevi textos sobre os dois trabalhos, a Dani também escreveu sobre o Falam as partes do todo?, assim como o Camillo. 






Resumindo, o Espaço em branco entre 4 paredes foi feito em 2002, quando eu ainda estava grávida, e o vídeo da performance foi filmado no Panorama de Dança desse mesmo ano, no Teatro Carlos Gomes - eu dirigindo as câmeras do João Vargas e do André, com a Branca à tiracolo, entre uma mamada e outra na escada de emergência. E o espetáculo começou a ser produzido quando a Branca tinha mais ou menos 8 meses. Quando eu ia aos ensaios tinhamos conversas longuíssimas às vezes com pessoas de fora da companhia também. Eu não ia a todos os ensaios e sentia muita falta disso mas ao mesmo tempo eu sentia um enorme prazer em vê-lo mais crescido depois daquele pequeno distanciamento. E um dia comentei com a Dani que naquele momento entendia o que era ser pai - ela amamentava diariamente o espetáculo e eu reconhecia o meu dna ali e o educava junto, apesar de não estar presente o tempo todo.

Eu vejo meus trabalhos com este olhar pensando no que é uma relação de diálogo, o conhecimento, aquilo que a gente aprende com o outro, estando ligado no mundo, e como diz a Lívia, absorve e transforma ao mesmo tempo.

Outra lembrança que me veio foi a da exposição individual do Ernesto que virou o 4 artists and I quando ele pediu emprestados trabalhos da Fernanda, do Cassaro, do Carlão e meus para expor junto com os seus na Butler Gallery em Kilkeny. Assim como na primeira performance da Cia Dani Lima, esta cumplicidade só possível por haver confiança, mas também confesso que gostaria de ter participado mais ativamente da montagem na Irlanda - senti uma sensação meio estranha ao ver a exposição apenas através de fotos e depois de montada.

Bjs,
T.

Planta da Galeria 2

Não consegui que a imagem ficasse boa... Mas de qualquer maneira já enviei essa planta por e-mail também.

Além da Galeria 2, conseguimos metade do corredor que divide as duas galerias!

ímpar par

Querido João,
até agora não entendi muito bem a matemática que faz com que havendo 12 artistas desenvolvendo trabalhos em "duplas", ou aos pares ( na verdade dupla aqui não diz nada, mas serve para abreviar o 1 em relação ao outro), você tenha ao mesmo tempo ficado sem par e fazendo par com outro par!
Eu estava preocupada com isso, de não ter ninguém fazendo o seu trabalho, fiquei me perguntando se eu conseguiria fazer (acho que não) ou se não estaria faltando alguém na lista (acho que sim). Mas agora, ao me dar conta deste enigma e da sua beleza ímpar, começo a achar que faz todo sentido esse desencaixe é muito mais interessante, ele é o elemento perturbador que não deixa parar, estagnar, cristalizar, emoldurar, etc é o vade retro do idílio, é o elemento cinético, o agudo. ih, me empolguei, paro por aqui mas continuo pensando, ainda tem muito assunto.
Um beijo,
Livia

Barrão manda noticias por email

e eu tomo a liberdade de reproduzir aqui...


> Oi Raul
> Comprei as bandeiras!
> Elas são de sinalização marítimas me lembram também os cartões vermelho e
> amarelo e a linguagem de códigos.
> Agora tenho elaborar um pouco mais a ideia de como trabalhar essas
> bandeiras, surgiram novas ideias!!
> Hoje elas vão para a lavaderia!
> Valeu !
> Grande Abraço,
> Barrão
>

abraco a todos

Talvez por estar mais desgarrado das parcerias, fico pensando se estas travessias não poderiam/deveriam ser mais amplas e não exatamente em duplas. Fiquei pensando no que Lívia escreveu, nas idéias de mimetismo, de absorção e transformações das coisas e do tempo. Acredito que a idéia de uma trama em que os caminhos [travessias] se a[travessassem], fosse mais adequada às relações que temos uns com os outros e com o projeto.

Fico pensando se não são mesmo as nossas vivências em comum – ou não – o que estamos buscando neste projeto. Este exercício de pensar no trabalho do outro, pelo que posso perceber nos depoimentos do Raul, da Tati, e no que tenho pensado, me parece – além de resolver uma proposição – um exercício de lembrar vivências comuns: atravessamentos poéticos, atravessamentos afetivos. Quando o Raul fala de ter visto um determinado trabalho no atelier da Daisy, lembrei dos trabalhos que vi lá quando estive em reuniões onde outros artista envolvidos neste projeto também estavam e dos comentários que fizemos.... está tudo emaranhado....

Apesar de procurar me focar no que me propus – fazer dupla com a dupla Carlão-Neto – este projeto tem me levado a lembrar. Talvez pq meu maior estímulo seja o fato de conhecer os artistas envolvidos, que são amigos de longa data – alguns muito próximos. Penso que talvez o mais interessante seja ampliarmos estas duplas, deixá-las mais ambíguas, mais triplas, quádruplas....

Gosto mesmo dos afetos sinceros que trocamos entre nós. Talvez seja este o melhor 'trabalho' desta exposição.

A Luiza fala em 'cumplicidade, amizade e anos de histórias públicas e privadas'. Adolfo fala que 'o fundamento do projeto é intercambiar poéticas'. Penso que isto deve acontecer de forma ampla!

Abraço a todos!

domingo, 13 de julho de 2008

Um telefonema no meio do domingo e um filme no fim

Barrão me ligou na hora do almoço. Estava na feira de antiguidades da Praça Santos Dumont no Baixo Gávea. Me disse q tinha encontrado 2 bandeiras dessas utilizadas na sinalização de navegação marítima e achava q isso poderia ser o trabalho dele para Travessias. Argumentou q tinha uma caráter geométrico q está presente em meu trabalho, q tem a ver também com um procedimento de apropriação e q ao costurar uma na outra ganharia uma caracteristica própria do trabalho dele. Gostei da conversa, gostei de imaginar o q Barrão me descrevia, gostei de ficar ali no meio do domingo pensando na exposicao durante uma conversa ao telefone com um velho e querido amigo. Bola pra frente.

PS:
Acabei o domingo no cinema assistindo o excelente filme do Schnabel O Escafandro e a Borboleta. Nervoso, envolvente, tenso e triste. Uma puta história contada com sensibilidade e competência. Recomendo aos amigos.
Vale lembrar que o filme rendeu a Schnabel o prêmio de direção no Festival de Cannes 2007 e no Globo de Ouro deste ano além de 4 indicaçoes ao oscar (melhor direção inclusive).

sexta-feira, 11 de julho de 2008

objeto para atravessamentos subjetivos


Lendo o texto do Adolfo sobre o título, lembrei-me de um texto do manovich (What comes after remix?) em que fala do remix como prática corrente na música mas ainda percebida como violação de direitos autorais em outras áreas. Nas artes plásticas, diz ele, a apropriação não implica num retrabalhar a fonte, o efeito estético resultando basicamente da transferência de um signo cultural de um contexto a outro, sem maiores modificações. O que eu acho mais divertido aqui é a possibilidade de modificar na própria fonte, ou naquilo que a gente imagina que seja. Gosto da idéia de camuflagem, de mimetismo, apesar de achar também interessante a idéia de mistura, talvez mais próxima de um remix imaterial, em que você já absorve e transforma ao mesmo tempo. Acho que coincidência de olhares também é bom de pensar.
bjs
L

quinta-feira, 10 de julho de 2008

containers






Outras idéias são em porcelana.
A primeira como nos pratos que fiz para o Museu Lasar Segall e nos baldes e bacias, só que agora entrelaçados nos furos.
E a outra colando os fragmentos/moldes do corpo em porcelana de modo invertido.
Também me lembrei do Puddle-Puzzle de 94!
Bjs,
T.

sutura

Oi Barrão e Adolfo,
os estudos em foto foram feitos em 2006, assim que saiu a escalação.
Eu estava expondo os trabalhos das peles, Peles (tear) e Pele (corpo), pensando sobre superfícies, corpos e fragmentos.
Fiquei me lembrando de vários trabalhos do Barrão, especialmente um desenho/colagem um papel rasgado colado com fita metálica prateada - acho que estava na Educação, Olha!, na Gentil.
O Barrão viaja na 4ª e combinamos de nos falar no sábado, o que você acha Adolfo?
Bjs,
T.